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Tuesday, August 31, 2004

A validade dos antigos novos projectos 

Decididamente, está na moda reactivar antigas bandas na reforma, sejam elas antigos marcos de uma geração, como os Duran Duran, ou sejam elas antigos símbolos da música rock, como os Deep Purple, ou ainda, sejam elas as The Bangles.
O que é certo é que todos os motivos são válidos para reactivar uma banda perdida que já teve o mínimo sucesso em tempos idos; e nem o facto de um (ou dois, ou mais) membro já ter falecido impede que isso aconteça, como fizeram os The Who.

Este meu ensaio recai sobre dois casos particulares: os The Doors e os MC5. Ambas as bandas foram cicatrizes profundas na história da música: exerceram influências, marcaram direcções, foram a génese de muita da música contemporânea. E ambas acabaram a sua actividade há décadas atrás. No entanto, com esta nova moda emergente, rapidamente surgiram projectos para as voltar a erguer. E assim surgiram os The Doors Século XXI e os MTK/MC5, supostos novos projectos, rebaptizados como forma de conferir um novo aspecto às antigas bandas, agora desprovidas de alguns dos seus membros, entretanto falecidos - Jim Morrison e Rob Tyner e Fred Smith, respectivamente.

A minha opinião é muito simples. Reactivar uma banda, anos e anos depois de esta ter perecido, por qualquer que seja o motivo, é um erro crasso e muito raramente dá resultado. E ractivar uma banda, depois de um ou mais membros já terem falecido, ainda pior o é - que me recorde, apenas os AC/DC conseguiram contornar esse aspecto de maneira positiva.
No entanto, pegando nestes dois casos concretos, dos novos The Doors e nos novos MC5, a minha opinião é que enquanto o primeiro é um projecto sem a mínima credibilidade, o segundo ainda consegue ter alguma validade.
Ora vejamos:

Os The Doors Século XXI é um projecto sem validade, porque para além de ter um Ian Astbury voluntarioso e cheio de vontade, Jim Morrison será sempre Jim Morrison, e queiram ou não, será sempre o rosto dos The Doors, pelo seu carisma único - e este novo projecto não consegue contornar este fantasma. Os MC5 tiveram que substituir o seu antigo volcalista e o antigo guitarrista e conseguiram-no de forma positiva, através de um modo eclesiástico, ao esticar as participações vocais entre os membros ainda vivos e o ex-Mudhoney Mark Arm e a ex-Bellrays Lisa Kekaula, e entregando a outra guitarra ao Hellacopter Nicke Royale. Logo aqui há uma diferença na validade de ambos os projectos: enquanto que o primeiro aparece como uma tentativa de reanimar os The Doors, revisitando as gerações passadas e introduzindo-se às novas gerações da forma possível (e nem vou comentar aqui o caso do baterista), os MC5 apresentam-se conscientes de todas as suas limitações, e para contornar isso recorrem a uma nova experiência musical em palco.
Porque enquanto os The Doors Século XXI recorrem a uma reencarnação posterior de o que foram, retocando todo o seu reportório de trás para a frente e de frente para trás, os MKT/MC5 apresentam-se como um novo projecto, nascido das cinzas do anterior. Tem o mesmo objectivo de apresentar a um novo público, um reportório importantíssimo da história musical, mas fa-lo segundo contornos de lição de música: os membros fundadores e os novos passeiam por um vasto reportório, passando pelos blues (Motor City's Burning), batendo à porta do soul e do gospel (I Believe To My Soul), rompendo pelo rock n' roll (Back In The USA), acenando ao metal (Over And Over) e claro, por Kick Out The Jams.

Por isso, enquanto que os MKT/MC5 são uma lição de música, os The Doors Século XXI são... bem, alguma coisa serão.

[Banda Sonora - Ramblin' Rose; Kick Out The Jams; 1969]


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