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Wednesday, September 29, 2004

As bandas-sonoras 

Há três tipos de bandas-sonoras: as más, as boas e as imortais. Há ainda outras duas categorias onde se sub-dividem as bandas-sonoras: as feitas de propósito para os filmes e aquelas que são pastiches de músicas a solto. Estas últimas duas categorias podem ser inseridas em qualquer uma das três primeiras categorias.
As que eu quero falar aqui são das imortais, que são as únicas que interessam.
Nesta categoria, a grande maioria são as banda-sonoras feitas exclusivamente para um filme; vêm logo à memória nome como o de Michael Nyman ou de Ennio Morricone. No entanto, apesar de poucas, também há bandas-sonoras imortais resultante de uma colagem de diversos trechos musicais. E neste campo salta à vista o nome de Quentin Tarantino.

Nunca acreditem naqueles que apontam uma banda-sonora como imortal, sem ver o respectivo filme. Ela só se torna imortal após o visionamento do filme. É como que certas músicas necessitassem de uma forma palpável para adquirirem total sentido.
Por exemplo, Ecstasy Of The Gold, o original de Morricone, é um poderoso intrumental que abre primorosamente os concertos de Metallica; mas não ganha o triplo do efeito, quando a vemos ilustrar a busca de Tuco pelo cemitério, na famosa prequela da triologia dos dólares, de Sergio Leone? É sem dúvida, um dos maiores momentos da sétima arte.
Outro exemplo, este da segunda categoria, tem a ver com a música de Dusty Springfield, Son Of A Preacher Man. A canção é uma excelente composição do início dos anos 60. No entanto, após ter sido dançada por Uma Thurman, antes da sua famosa overdose em Pulp Fiction, transcendeu-se e adquiriu novo significado. De repente, passou a fazer todo o sentido.

Actualmente, as bandas-sonoras sofrem dos mesmos problemas que o cinema. Ou seja, também são regidas por intuitos comerciais e são cada vez mais, colectâneas de êxitos radiofriendly das bandas da moda.
No entanto, há excepções. E Para Onde O Vento Sopra é uma excepção.
A banda-sonora do genial filme de Tom Barman, o vocalista dos dEUS, é imortal. E insere-se na categoria das colagens musicais. O exemplo mais berrante do que estou a tentar explanar, reside no projecto de Barman, Magnus. Se em Paredes de Coura, o concerto de Magnus não foi mais do que um reportório de música electrónica, levemente agradável e levemente dançável, em Para Onde O Vento Sopra, quando lhes conferida matéria visual, elas transcendem-se. E agora Magnus não sai do meu leitor de CDs.
E o mesmo acontece com REgular John, dos Queens Of The Stone Age, ou com Charles Mingus, que agora parece ser a banda-sonora oficial de Antuérpia.

As bandas-sonoras podem ser imortais. E esta é uma delas!


[Banda Sonora - Summer's Here; Original Soundtrack; 2004]


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Sunday, September 26, 2004

Paulo Furtado é Deus em pessoa e não diz a ninguém... 

...ou então não.
O certo é que os Wraygunn estão em digressão nacional - Station To Station - com os portuenses X-Wife e ontem passaram pelo Barreiro. Até nem foi dos melhores concertos que já assisti da banda, mas é um óptimo pretexto para falar acerca deles.

Os Wraygunn são a banda portuguesa da actualidade com mais potencialidades inerentes no álbum póstumo. Não é só por Eclesiastes 1.11 ser um dos discos mais frescos, modernos e dançáveis deste ano; é porque os Wraygunn transpiram originalidade, criatividade e muita, muita energia. Os Wraygunn são um poço sem fundo onde se amontoam os mais diversificados géneros musicais, ao qual a banda vai buscar às mãos cheias pedaços de tudo e de nada - gospel, electrónica, blues, hip-hop, soul e claro, rcok n' roll!
Da formação original apenas restou Paulo Furtado; e quer queira quer não, o facto é que este metade-homem metade-tigre é o rosto da banda.

Verdadeiro animal de palco, Paulo Furtado é daqueles que se vê à distância que mais do que gostar da música, ele sente a música. Daí vir toda aquela energia e aquela alienação em palco, que se traduz em saltos, reboliços pelo chão, destruição do material em palco e muita inter-acção com o público. Se os blues necessitassem de uma licença para serem tocados - algo tipo um curso intensivo ou isso - Paulo Furtado seria dos que a tirariam em dois tempos. E esta relação que ele tem ao tratar os blues por tu, fá-lo manter uma relação de proximidade com todas os géneros que aborda.
Se os Wraygunn são o resultado de toda a expressão da sua criatividade, também não se pode esquecer o resto da banda. Os Wraygunn também são Raquel Ralha, João Doce, Raquel Ralha, Francisco Correia, Sérgio Cardoso e acho que ainda não disse, Raquel Ralha.

Quanto aos concertos, são algo de obrigatório no panorama actual da música. Paulo Furtado puxa para si as responsabilidades da noite e arranca sempre para uma actuação demente, como se aquela fosse a última vez que subisse ao palco. Se por vezes o resto da banda tem alguma dificuldade em acompanhar aquela quase insanidade, musicalmente são eles que não deixam o concerto transformar-se em algo inaudível - e que grandes actuações de João Doce na percursão!
Um concerto até pode ser apenas música, mas havendo uma componete visual bem explorada, passa-se para outro nível - o da glorificação/galvanização. Os Wraygunn sabem isso e regem-se por esta máxima.
Com muita pena minha, nunca tive oportunidade de ver um concerto dos Tédio Boys. Mas depois de ver um concerto de Paulo Furtado e os seus Wraygunn, Kaló e os seus Bunnyranch e Toni Fortuna e os seus D3ö, imagino o que aqueles três rapazes fariam juntos.

É verdade. Eu gosto mesmo dos Wraygunn. Mas eles fazem por isso.

PS(1) - Andava com algumas dúvidas, que a noite de ontem teve o condão de desfazer por completo. Não gosto de X-Wifes nem compreendo todo aquele hype à volta do trio portuense...
PS(2) - O Barreiro está para Portugal como Manchester está para a Inglaterra, em termos musicais. Pelo menos assim espero! É que do Rio Tejo para baixo, é o único sítio onde se passa qualquer coisa. Concertos todos os fins-de-semana, sextas e sábados, os Wraygunn em digressão nacional e em breve, mais uma edição do Barreiro Rocks.
Nunca mais ouvi falar dos Act-Ups. Alguém sabe deles?


[Banda Sonora - Ain't Gonna Break My Soul; Soul Jam; 2000]


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Wednesday, September 22, 2004

Esta tarde, no meu leitor de CD's 


[Banda Sonora - Damage; Damage; 2004]


Jon Spencer tornou-se mais humilde e decidiu deixar de dar o nome à sua banda. E os Blues Explosion, agora com os seus membros todos a trabalharem em exclusividade para o colectivo, acaba de lançar nos escaparates Damage, o sucessor de Plastic Fang, que se arrisca já a tornar-se um dos marcos da discografia desta banda norte-americana.

Em Damage, este power trio desalmado volta a abordar a sua sonoridade por outro ângulo, que nem pitágoras sabia existir. É que ao contrário de algumas vozes mais críticas, os Blues Explosion não são apenas uma colagem de momentos rock n' roll retirados ao longo da história, prensados contra uma parede de distorção; são todo o suor que isso implica, desvarios emocionais, guitarradas experimentais e claro, outra vez muito rock n' roll. Se em disco ouvimos constantemente os Stones ou os Stooges, em palco vemos também Jimi Hendrix ou os Cramps.
Se antes já tinham experimentado a música electrónica, abandonando-a por completo em Plastic Fang, em Damage os Blues Explosion fazem uma incursão pelo hip-hop, daí as colaborações com DJ Shadow ou Dan The Automator. E de repente, parece que o hip-hop faz, finalmente, algum sentido.
Os Aerosmith já tinham mostrado ao mundo que o hip-hop encaixava da melhor maneira no rock - falo obviamente de Walk This Way, ao lado dos Run DMC - mas ninguém os quis ouvir, apostando sempre no contrário, no rock encaixado no hip-hop. Mas essa fórmula, por mais que tentem, não resulta. Ouviste Eminem? Por isso, Hot Gossip faz todo o sentido. É rock, é Jon Spencer, é hip-hop, é Chuck D [Public Enemy].
No entanto, não é por isso que deixamos de ouvir os Stones - sobretudo nas baladas - ou uns The Cramps mais seguros.

Depois de um início avalassador, o álbum acaba por perder gás e termina algo insonso. Mas com um início daqueles, será justo pedir mais? É que a a primeira música do álbum, cujo nome baptiza o disco e antecipa o primeiro single promocional - Burn I Off - é quiçá, a coisa mais poderosa que saiu cá para fora nos últimos tempos. Uma composição crescente, orelhuda qb e que, de repente, entre numa fúria despropositada, como se os The Who se tivessem multiplicado por cinco, possuídos por algo terrível das entranhas da Terra. Damage é uma canção que nos faz ouvi-la vezes sem conta; é por ela, que só ao segundo dia, é que conseguimos ouvir o resto do álbum. Não devia ser proibido fazer canções assim?

PS- Para quem viu, digam lá que o concerto dos Blues Explosion não foi das melhores coisas que Paredes de Coura viu este ano? E todo aquele dilúvio que se abatia ao mesmo tempo passou despercebido...

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Saturday, September 18, 2004

Será altura de voltar para o subsolo? 

Confesso que no ano passado, quando os Radio 4 subiram ao palco para abrir o terceiro dia de Paredes de Coura, eu não fazia a mínima ideia quem eram aqueles cinco senhores. No entanto, não demorou muito para ter decorado o nome e quando regressei, Gotham! foi o primeiro cd a saltar para o carrinho de compras quando tive oportunidade.

Apesar de se terem formado em 1990, foi com o seu segundo álbum , Gotham!, que os Radio 4 alcançaram o reconhecimento público. Integrados na nova tendência rock/dance que começava a despertar na cena musical nova-iorquina, rapidamente afastaram o espectro da desconfiança para se tornarem uma certeza, contribuíndo para a nova tendência que rapidamente se alastrou, conjugando dance music com as mais poderosas guitarradas que o rock pode oferecer (alguém falou em DJ Kitten e afins?).
Ao lado de bandas como os Rapture, ou até os The Yeah Yeah Yeahs, os Radio 4 abriram a porta para esta nova fase, que começava a dar cartas nas pistas de dança, agradando simultaneamente aos simpatizantes da música electrónica e aos simpatizantes do rock. Apregoavam na altura, para quem os queria ouvir, que se dançava no subsolo, mas o que é certo, é que a dança já se extendia muito além pela superfície.

Os Radio 4, musicalmente, apareciam à frente dos seus conterrâneos Rapture ou The Yeah Yeah Yeahs. É que os Radio 4 fazia a fusão, não entre a dance music e o rock, mas entre o rock e a dance music; a segunda em função da primeira. Guitarras com uma precisão cortante, de riffs viciantes; linhas de baixo constantes, avassaladoras e viciantes; e o grande trunfo, com PJ O'Connor, na percursão; complementando isto aparecia os ritmos de dança, que obrigavam até o mais estático não só a saltar, mas a dançar. É uma catarse de rock, dance, groove e dub! Se depois procuravam alguma intervenção política, isso era secundário - deixem a tarefa para uns The (international) Noise Conspiracy.
Gotham! era tudo isto e foi um dos discos do ano com toda a justiça.

Depois disto, esta fusão dance/rock cresceu, expandiu-se, tornou-se pequena para se conter a Nova Iorque e internacionalizou-se. Da sua herança surgiram novas bandas, como os !!!, houve dj's que pegaram na fórmula (mais uma vez, alguém falou no DJ Kitten?) e até houve djs que sgeuiram essa fórmula, criando eles próprios uma banda por cima das pegadas já deixadas (-).
E dois anos depois, salta cá para fora o terceiro registo dos Radio 4, o muito aguardado Stealing Of A Nation. A crítica desfaz-se em elogios, o álbum é elevado aos píncaros. A Razão? Desconhecida...

De facto, não entendo tamanhos elogios públicos. Os Radio 4 de Stealing Of A Nation não são os mesmos de Gotham!. Agora é o rock que é usado em fuñção da música de dança; as linhas de baixo quase desapareceram; e a percursão tornou-se quase esporádica.
Stealing Of A Nation, infelizmente, é um banal disco de dança.


[Banda Sonora - Our Town; Gotham; 2002]


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Friday, September 17, 2004

Well now boy "Reach for the sky!" 

Steven Tyler, questionado certo dia acerca de Janis Joplin, apenas respondeu sucintamente que se não tiveres Janis Joplin as únicas raízes que terás serão as do cabelo. De facto, é uma máxima completamente verdadeira. Como é possível alguém fazer música, ou mesmo gostar de música, em toda a sua excelência, dr não tiver minimamente consciente das duas origens?
Não que seja necessário aprofundar até ao âmargo; Steven Tyler apenas recua a Janis Joplin para mencionar o rock, mas claro que antes dela muitos outros existiram. Não que isso a faça deixar de ser a referência musical que é (e que referência!), mas se tivermos presentes as raízes ainda anteriores, a música acaba por ter outro sabor.

Digam o que disserem, para mim a génese da música está nos campos de algodão dos Estados Unidos. Os blues foram os pais, uns pais com muitos filhos, alguns bastardos, mas todos do mesmo sangue: rock, soul, hip hop, punk, dance...
Por isto, ouvir estes artistas deixa-noos um gostinho especial na boca. Haverá algo mais puro do que ouvir Robert Johnson, Hank Williams ou Bo Didley?

Isto faz com que os blues despertem sensações desconhecidas na música. Canções cantadas ao ritmo de uma história, numa voz embriagada, não só literalmente, mas também de amor, mulheres e de uma certa saudade de casa.
Todos temos o nosso momento zen na música. Uns encontram-no mais dacilmente no jazz, outros na ópera. Eu encontro-o nos blues. Aquele momentos em que tudo parece fazer sentido, em que a música deixa de ser só música, transcende-se.
No entanto, o momento que vou referir não pertence a um Robert Johnson, um Howlin' Wolf, um Muddy Watters ou a um Willie Dixon. Podem pensar que é uma opinião facciosa, mas não o é. O meu momento zen é protagonizado pelos Rolling Stones.

Antes de serem a mairo banda de rock do mundo, os Stones dedicavam-se a interpretar os blues que aconteciam do outro lado do Atlântico, na pacata cidade londrina. Esta primeira impressão europeia dos blues conferiu-lhe novo significado.
A música em questão chama-se Cops And Robbers e foi escrita pelo mestre Bo Didley. Foi gravada pelos Stones, em 1964 no Camden Theatre de Londres, mas nunca conheceu edição oficial. Pode no entanto ser escutada no bootleg homónimo, de uma actuação televisiva, com um grande artwork. Nela, os Stones transcendem-se.
A letra, uma narração moral cantada magistralmente por Mick Jagger, assume contornos de conversa de café, copo de whisky numa mão, cigarro na outra. Um dos momentos vocais de Jagger, em que o sangue negro do Mississipi parece correr-lhe nas veias. Por outro lado, há a melódica harmónica do saudoso Brian Jones - haverá instrumento mais expressivo? - que acompanha a voz de Jagger, dando-lhe consistência, tempo e espaço. Depois há Charlie Watts a marcar o ritmo, sóbrio e natural, como o batimento cardíaco da canção. E só depois surgem Keith Richards e Bill Wyman, que complementavam aquele momento de perfeição. E quando estamos arrebatados por isto tudo, heis que Jagger irrompe com well now boy "Reach for the sky"!, sublime, como se os céus descessem à Terra por instantes.

O adjectivo só pode ser perfeito. Ouvimos vezes sem conta o vinil, até o prato do gira-discos estar cansado e cada vez nos soa melhor. E depois, toda a música que escutamos a seguir ganha outro significado. É que, e recorrendo mais uma vez a Steven Tyler, há músicas boas e músicas más, mas se mexerem contigo daquela maneira especial, então é uma dávida de Deus.


[Banda Sonora - Cops And Robbers; Cops And Robbers; 1964]


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Thursday, September 16, 2004

Óbito 


Johnny Ramone . 1948-2004


Faleceu esta madrugada Johnny Ramone, vítima de um cancro na próstata que o atormentava há já cinco anos.
John Cummings adoptou o nome de Johnny Ramone, quando se juntou aos seus irmãos de armas, para tocar guitarra, fundando assim os Ramones. Depois de Joey e Dee Dee, foi a vez de Johnny Ramone desaparecer do mundo dos vivos para se juntar no Olimpo dos músicos.

Se o punk nasceu com os Sex Pistols, então foi com os Ramones com quem ele cresceu. É certo que os britânicos tinham a atitude, mas não passava disso: manobras de marketing, chamarizes dos media... Era o aproveitar natural das diabtrices de quatro miúdos na flor da vida, nas orgias de álcool, drogas e sexo, que nem quase tocar sabiam. Há quem defenda mesmo que os Sex Pistols foram a primeira boysband da história da música.

Do outro lado do Atlântico, mais propriamente em Nova Iorque, surgiam em 1974, a mítica banda chamada Ramones, que souberam adoptar o punk, nascido na Inglaterra e educa-lo, transformando-o no que é hoje. São umas das maiores influências da música, no campo não só do punk, mas sobretudo do rock.
Os Ramones tiveram atitude, foram a verdadeira revolução política na música que sacudiu a revolução das massas jovens urbanas e foram, sobretudo, bons músicos. E prova disso, é a intemporalidade das suas músicas.

Numa altura, em que a denominação punk é enxovalhada, cuja reputação é arrastada pela lama por miúdos auto-denominados punks (alguém falou nos Blink 182 ou nos Fonzie?) - como se isso fosse possível hoje em dia - aconselha-se a todos os que não conhecem que peguem nas raízes: nos Sex Pistols, nos Ramones e nos Clash. Porque como diria Steven Tyler acerca de Janis Joplin, se não sabes quem foram os Ramones então as únicas raízes que tens são as do cabelo.


[Banda Sonora - Blitzkireg Bop; We Are A Familly, A Tribute To The Ramones; 2002]


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Tuesday, September 14, 2004

Scott Weiland, o último dos rockstars 

Reza a história que os três ex-membros dos Guns n' Roses - Slash, Duff e Matt - se juntaram para tocar num concerto de tributo ao amigo Randy Castillo [ex-baterista de Ozzy Osborne]. E parece que a experiência foi tão revitalizadora que, os três amigos ao recordarem os tempos idos de sucesso ao lado de Izzy Stradlin - e mais tarde Gilby Clarke - e Axl Rose, decidiram abandonar os seus projectos que teimavam em se manter afastados do sucesso - Slash's Snakepit, Loaded e até mesmo, os The Cult - para formarem uma nova banda.
Recrutaram Dave Kushner para complementar a secção rítmica e apontaram baterias para um vocalista, capaz de dar a cara por aquele novo projecto rock. O retrato era fácil: uma fusão entre a veia criadora de Lennon e McCartney com a irreverência de Billy Idol, aliado ao estilo de Steven Tyler e ao glamour(?) de Alice Cooper. No entanto, a escolha era mais difícil do que parecia e assomava-se mesmo épica. Scott Weiland era uma boa escolha, mas estava com os Stone Temple Pilots; Mike Patton rejeitou a favor dos seus inúmeros projectos; e os verdadeiros rockers escasseavam. A solução foi recorrer a um reality show mascarado de casting gigantesco; mas quando a melhor hipótese era Sebastian Bach [Skid Row], a qualidade dos candidatos fica bem patente.
A tarefa parecia hercúlea.

No entanto, como que por acção divina, Scott Weiland desmantelou os inactivos STP e juntou-se aos quatro músicos, nascendo assim os Velvet Revolver, transformando uma nova banda rock, numa super nova banda rock. Estava encontrado o último dos rockstars.

O epíteto parece exagerado, mas não o é.
Numa altura em que a música é um negócio volátil, apenas e só apontado para as grandes massas, o verdadeiro espírito do rock n' roll tende a desaparecer. É que no meio de tanto marketing, merchandising e regras de promoção, vigiadas por bandos de agentes publicitários e managers, os músicos já nem têm possibilidade de se dedicarem à música que gostam, quanto mais ao sexo, drogas e rock n' roll.
Se a própria música é dirigida por directrizes pré-definidas, o que dizer da vida dos próprios artistas?
No entanto, continua a haver Scott Weiland, que manda tudo isto para trás das costas e continua a acreditar e a viver segundo a máxima sexo, drogas e rock n' roll, com apetência para as segundas.
E não digo isto apenas pelas suas jornadas periódicas por clínicas de reabilitação; digo isto porque basta olhar para os olhos (vidrados) de Scott Weiland para ver que ele vive o momento, que sabe o que é a liberdade e a vida. E quantos músicos hoje em dia, se podem orgulhar de já terem sido presos uma vez, quanto mais as incontáveis vezes que Weiland já o foi.

Por outras palavras, Scott Weiland parece um drogado alienado, com estilo, a quem as calças de licra ficam bem, que sabe cantar e dançar e que sabe o abedecedário do rock n' roll.
Em suma, é o último dos rockstars! Hail hail to rock n' roll!!

P.S.- Os Velvet Revolver passaram este domingo pelo Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Curioso, em como há uma década o grunge não conjugava com o glam rock (afinal o primeiro tinha assassinado o segundo) e agora os dois fundidos fazem todo o sentido.
É certo que lhes falta confiança e um segundo álbum para melhorarem musicalmente. Mas um concerto com aquela força toda nunca pode ser um mau concerto.


[Banda Sonora - Big Machine; Contraband; 2004]


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Saturday, September 11, 2004

A propósito dos Libertines e da sua passagem pelo Garage 

Pouco habituados a ficar para trás no que diz respeito à música, os ingleses parecem ter ficado aflitos aquando do revivalismo do rock n' roll, tão merecidamente protagonizado em primeira instância pelos norte-americanos The Strokes.
De repente, quando já se deixara de ouvir apenas nos vãos de escada para se ouvir em todo o lado que o rock estava morto, o rock n' roll renasce pela mão de um colectivo norte-americano que rapidamente se espalhou internacionalmente. E se os ingleses não estavam habituados a ver os americanos a roubarem-lhe o protagonismo nos tronos musicais, muito menos estavam ao ver esses tronos ocupados por bandas de tudo o que era lado, fossem eles da Suécia [The Hives], da Nova Zelândia [The Datsuns], ou até da vizinha Escócia [Franz Ferdinand].
Por isso, os media ingleses rapidamente se apressaram em busca da next big thing; alguém capaz de fazer frente a ianques e a europeus; e alguém capaz de passar a figurar nas cadernetas da música da actualidade, em poucas semanas. E assim surgiram os The Libertines.

Com efeito, os The Libertines encaixavam-se como uma luva nas pretensões dos media ingleses. Protelavam um rock retro, mas orelhudo, onde se ouvia os Clash a tropeçar nos The Kinks; e ao mesmo tempo, apareciam enrolados na bandeira inglesa, quais Union Jacks patrióticos musicais. O hype foi imediato, o sucesso consequente e não demorou muito até serem considerados como a banda mais importante desta geração.
Up The Bracket, o álbum de estreia, era promissor. Mas rapidamente, as atenções viraram-se para outros factos. Pete Doherty, o guitarrista/vocalista, não conseguia afastar-se do verdadeiro espírito rocker, do sexo, drogas e rock n' roll, com apetecência para as segundas. Os media não perdoavam e as suas diabtrices não ajudavam. Rapidamente, Doherty se viu a braços com a justiça, foi preso, abandonado pela namorada e despedido da banda.

Actualmente, apesar de ter sido lançado o segundo álbum, de nome homónimo, o resultado não foi muito convincente. E adivinha-se que se Doherty não vencer a luta contra a heroína, que isso será o fim dos Libs. A imprensa britânica já o entendeu. E a sucessão já recomeçou.
Por isso, a minha opinião é que o próximo nome a decorar, vindo das terras de sua majestade, catalogados como a next big thing, vão responder pelo nome The Blueskins. O álbum de estreia chama-se Word Of Mouth e o colectivo inglês está neste momento na pole position para a sucessão dos The Libertines.

Não são tão agressivos quanto os The Libertines, mas o que perdem no punk, ganham-no no pop. Atitude não lhes falta, refrões e guitarradas orelhudos também não e ganham ainda uma consistência pop de herança betleniana, aliada a uma influência retro rock de uns certos Led Zeppelin - até o registo vocal, faz lembrar Robert Plant.
Por tudo isto e mais umas razões, The Blueskins são a minha aposta para a sucessão do trono da música rock em Inglaterra. O tempo dirá se tenho razão.

P.S. - Afinal, ao contrário do título, o texto acabou por ter pouco a ver com a passagem dos The Libertines pelo Paradise Garage, ontem à noite. Mas também parece que foi a meio-gás. A adivinhar o declínio que se assoma.


[Banda Sonora - Ellie Meadows; Word Of Mouth; 2004]


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Friday, September 10, 2004

Porque os génios também precisam de companhia 

Finalmente, tenho nas mãos o último disco de Ray Charles. E finalmente, estou a ouvir o último sonho de Ray Charles.

O álbum chama-se Genius Loves Company e foi o resultado de um antigo sonho de Ray Charles, de gravar o seu próprio álbum de duetos com alguns dos seus amigos. E assim, as gravações decorreram durante um ano e foram terminadas poucos meses antes do desaparecimento do pai do soul, que teve que interromper as gravações algumas vezes, devido à sua já debilitante condição física.
No entanto, ao escutar o álbum isso não se nota. O que se nota é o último registo de um génio, que mudou a música, encantou gerações e que desde muito cedo reservou o seu lugar no céu dos músicos.

Em Genius Loves Company, Ray Charles reuniu uma mão cheia de versáteis amigos, desde BB King a Diana Krall, passando por Elton John ou Van Morrison. O resultado foi um dos mais frescos e agradáveis álbuns das últimas décadas do cantor norte-americano.
Cego desde os sete anos, Ray Charles desde muito cedo que se notabilizou à frente do piano, com a sua voz versátil e audaz, criando celeuma nos anos 60 devido ao seu estilo de música, muito gospel, muito r&b e muito boogie, que fez os mais conservadores levantarem-se.
Neste Genius Loves Company todos estes anos de história são audíveis; e se as músicas soam aquilo que estamos habituados a ouvir no reportório dos convidados, o que é certo é que todas soam a Ray Charles. Mesmo que seja o jazz de You Don't Know Me (com Diana Krall), o blues de Sinner's Prayer (BB King), o folk de It Was A Very Good Year (com Willie Nelson), o gospel de Heaven Help Us All (com Gladys Knight) ou o tradicionalismo de Somewhere Over The Rainbow (com Johnny Mathis).

Genius Loves Company não é o disco de Ray Charles. Mas é um álbum obrigatório.
Porque os génios também precisam de companhia. Mesmo que este génio seja o pai do soul.

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Esta tarde, no meu leitor de CD's 


[Queens Of The Stone Age - Rated R; Ray Charles - Genius Loves Company; Pedro Abrunhosa - Palco]
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Wednesday, September 08, 2004

Apresentando Danko Jones 

Lembro-me de o ano passado ter ido ao Festival Paredes de Coura e, em frente ao palco, estar com apenas mais três outras pessoas que conheciam o trio canadiano que se preparava para estrear em solo lusitano, que respondiam pelo nome Danko Jones.
O que começou por ser um concerto às escuras, para apenas meia dúzia de pessoas que conheciam previamente o que estavam a ver e ouvir, tornou-se rapidamente num espectáculo louco para dezasseis mil espectadores (no mínimo) - a apresentação não poderia ter corrido melhor.
Hoje, já não há um único pseudo-entendido de música moderna que não apregoe aos magotes de amigos que o rodeiam, os benefícios da música deste colectivo canadiano.

Para quem ainda não ouviu falar, trata-se de um power trio tradicional - guitarra/voz, bateria e baixo - natural do Canadá, que adopta o nome do seu frontman, o vocalista e guitarrista Danko Jones. Assentes nesta combinação, que já por si é explosiva, os Danko Jones são uma experiência bombástica quando experimentada ao vivo - são toneladas de adrenalina injctadas nas veias a um ritmo alucinante e galões intermináveis de testoterona bombeada directamente para o coração.

Os Danko Jones são verdadeiros animais de palco (e quando se fala da banda, o seu nome confunde-se com o vocalista, porque os dois são quase o mesmo e falar de um em particular e de outro em geral, é como falar quase do mesmo), altamente rodados após anos de estrada, alcatrão e poeira, em que se negavam frontalmente a entrar em estúdio e a assinar contratos com qualquer produtora, afastando todas e quaisquer pressões capazes de impedir de os fazer aquilo que queriam e gostavam - rock n' roll!

De facto, os Danko Jones não são os salvadores do rock, mas sem dúvida que têm contribuído para que este se mantenha vivo. Não se apresentam com a presunção de reinventar a música, mas estão lá para tocar aquilo que gostam - nariz ao vento, guitarras ao alto e bateria à desgarrada, num rock muito retro, sem rodriguinhos ou jogos de cintura.
É certo que se escreve o nome dos AC/DC, dos MC5 ou dos Deep Purple, quando se tenta descrever o som deste trio sui generis canadiano, mas o que é certo é que as raízes do rock estão lá todas. E Danko Jones faz questão de deixar isto bem claro, em todos os concertos, no final de Mountain, quando clama pelos grandes nomes que já nos deixaram, sejam eles Robert Johnson, Cliff Burton, Joey Ramone, Joe Strummer, Marvin Gaye ou Otis Redding.

Os Danko Jones não venderam a alma ao diabo num certo cruzamento no deserto norte-americano; mas quando Robert Johnson vendeu a sua, eles estavam lá. Também não juntaram a palavra de Deus à palavra do Diabo, em forma de música; mas quando Ray Charles o fez pela primeira vez, também estavam lá. E também é certo que não se juntaram para cantar o amor; mas enquanto Marvin Gaye o cantava, eles enfatizavam o sexo.
Os Danko Jones não vão reinventar a música. Se calhar, até vai conhecer todas as músicas antes de as ouvir. Mas de certeza que não o vão deixar quieto um instante. E no final do disco, as suas pernas vão estar trôpegas de saltar e a sua voz rouca de gritar. Como se tivesse levado uma autêntica sova. Porque a sua música são autênticas sovas!

Danko Jones são, talvez, a banda da actualidade mais brutal em palco.
E como já alguém se definiu, eles não querem descobrir a pólvora. Apenas senti-la explodir.


[Banda Sonora - Wait A Minute; We Sweat Blood; 2003]

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Tuesday, September 07, 2004

5 razões para o sucesso dos Clã 

Ontem, após assistir a mais um (grande) concerto dos Clã, pus-me a pensar qual o motivo do seu grande sucesso nacional, que os torna em uma das bandas portuguesas mais acarinhadas pelo grande público. E encontrei cinco razões que podem explicar a razão para tal sucesso:

1º- Porque são uma banda com um som jovem, moderno e fresco, capaz de dar novas roupagens com contornos de dança a clássicos de bandas como os Rolling Stones [I'm Free], até ao tradicional Sérgio Godinho [Espectáculo].
2º- Porque Manuela Azevedo é uma autêntica força da Natureza, um verdadeiro furacão em palco, mas com uma voz de anjo, capaz de apaixonar e amolecer o coração mais duro.
3º- Porque os Clã mantêm na sua música, apesar de dissimulada no sintetizador, na guitarra e afins, uma pinga do nosso tão tradicional fado.
4º- Porque são uma banda versátil, que consegue alternar momentos de verdadeira euforia, pondo milhares de pessoas a saltar com Dançar Na Corda Bamba, para logo depois meter todas estas pessoas a cantar em coro, de isqueiro em riste, O Sopro Do Coração.
5º- Porque são uma das bandas mais interessantes no que diz respeito às letras, o que se traduz nas várias colaborações de alguns dos mais importantes "poetas" da música actual, de Carlos Tê a Sérgio Godinho, ou nas recentes colaborações de Adolfo Luxúria Canibal, Arnaldo Antunes ou Regina Guimarães.

Depois de ter exposto estas cinco possibilidades a várias pessoas, todas elas recusaram-nas e acrescentaram uma, de forma unânime - É por a Manuela Azevedo não usar soutien em palco.


[Banda Sonora - Fahrenheit; Lustro; 2000]

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Sunday, September 05, 2004

Será estranho gostar de Prince? 

Na escala cronológica evolutiva da música, existe já um marco eregido a Prince.

É certo que Prince é um músico ostracizado, principalmente desde os anos 90, tanto pelas suas presunções que o fizeram alterar o nome artístico várias vezes (The Artist Also Known As ou simplesmente The Artist), como pelo seu aspecto excêntrico. Também a sua música deixou de fazer algum sentido, depois dos anos 80.
No entanto, é sem dúvida uma das grandes influências da música electrónica, da música de dança, da música pop e, principalmente, do funk, que dificilmente é reconhecida publicamente.

Se James Brown é o avô do funk, Prince é sem dúvida, o pai do funk! Talvez seja um epíteto exagerado, mas o que é certo é que ninguém influênciou tanto o funk e os ritmos de dança electrónicos como ele, desde James Brown - nem mesmo Sly And The Family Stone (que também já tem o seu altar erguido na escala cronólogica da música).
Mas Prince não se fica por James Brown; vai beber a Jimi Hendrix, a Otis Redding, a John Coltrane e a um sem número de influências intemporais, criando um estilo próprio à volta da sua sex-love-politic music.

Os anos 80 foram uma década difícil, em relação à música. No entanto, apesar de ter lançado o primeiro álbum ainda em 1978 [For You], Prince tornou-se uma das referências da década, primeiro com um disco chamado Purple Rain, em 1984, e três anos depois com uma obra de arte dupla, de seu título Sign O' The Times.
Prince é um artista fantástico - e para isso basta relembrar a sua passagem pelo Estádio de Alvalade, em 1993, mostrando que é um dos maiores fenómenos musicais a actuar ao vivo - e um multifacetado instrumentista, já para não mencionar os seus dotes de dançarino. E se em Purple Rain era abordado um rock-soul electrónico influencionado pelo funk e pela música electrónica, em Sign O' The Times é abordado o funk, com influência do rock, do soul, do blues, do jazz e claro, da música electrónica.

Actualmente, Prince é alvo de todos os preconceitos. No entanto, não haverá quem nunca dançasse (delirasse, é talvez a melhor palavra) numa pista de dança ao som do Kiss.
Musicology, lançado este ano e que marca o seu regresso aos grandes contratos editoriais, depois de um longo hiato a criar álbuns menores, continua pelo topo das tabelas; no entanto, ninguém confessa que o comprou.
Há algum tempo, houve alguém que disse que só temos três certezas na vida: todos nascemos, todos morremos e que Prince vai lançar mais um álbum. Pois que o seja. E ainda bem!


[Banda Sonora - Musicology; Musicology; 2004]


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Thursday, September 02, 2004

Coimbra, capital nacional do rock 

A frase não é da minha autoria, mas faço dela minha.
Para quem não está dentro da actualidade musical nacional (ou até mesmo para quem está), pode parecer um pouco estranho. Mas Coimbra é sem dúvida, o berço do estado actual da música portuguesa.

Tudo graças a um nome: Tédio Boys! De facto, surgidos numa época em que se procurava um novo rumo na música portuguesa, este colectivo veio agitar a realidade nacional. Mostrando que afinal se pode gostar de algo já passado, que não é necessário inovar constantemente, os Tédio Boys revisitaram o rockabilly, o rock n' roll e os blues; e voltaram a aparecer as suiças, as poupas, a brilhantina, as calças de ganga justas e as botas bicudas.
A importância dos Tédio Boys reflectiu-se mais no underground musical português, mas quando um certo Joey Ramone os convidou pessoalmente para actuarem na sua festa de aniversário, na sua própria casa, este conjunto natural de Coimbra começou a ser visto de outra maneira pelos mais cépticos. Porque mesmo que não se acreditasse na sua música, era impossível não ficar rendido à força que empregavam em palco, à energia e à electricidade.

No entanto, tão depressa como apareceram, também desapareceram. E das cinzas dos Tédio Boys, levantaram-se outros projectos, que começam agora a dar cartas no panorama musical nacional, que só pecam por tardias.
O primeiro caso de sucesso, foi o projecto de Paulo Furtado, The Wraygunn. Revisitando as raízes da música, dos grandes mestres do blues, acenando ao funk de James Brown, sorrindo ao gospel, saltando no rock e visitando tudo o mais que seja audível, os The Wraygunn são actualmente uma das bandas portuguesas mais interessantes. E em palco, Paulo Furtado tem oportunidade de extravasar toda a sua demência saudável, seja ela ao rebolar na lama, seja ela ao desafiar o próprio Diabo. O que é certo, é que qualquer que seja o concerto que se assista, será uma experiência memorável.
Paulo Furtado tem ainda possibilidade de dar fuga a essa sua criatividade demente, com o projecto a solo de The Legendary Tigerman. Ao assumir esta pele, Furtado transforma-se num branco que queria ser negro, nascido nas margens do Mississipi, antes de enbarcar no êxodo para Chicago, cantando o amor, o sexo e as mulheres, numa mão a guitarra, na outra uma garrafa de whisky.

Logo atrás na carruagem vem Kaló e os seus Bunnyranch. Com um colectivo de peso, Kaló puxa a sua bateria para a frente e toma as rédeas de uma festa pagã de rock n' roll, ligada automaticamente à electricidade, recusando pactos com o Diabo, obrigando mesmo o próprio anjo do mal a vender a sua alma a eles. É rock puro e duro, em toda a sua essência, que faz saltar, dançar e gritar.

Mais discretos são os D3ö (lê-se the trio), de Tony Fortuna. Um power trio que bebe nas mesmas fontes e que ganha mais força ao vivo do que em disco. Talvez por isso, apareçam ainda na sombra. Mas não deixam de ser uma explosão sonora, sem medo de plagiar o mais viciante riff da história do rock, se isso for o necessário para fazer carburar essa explosão!

E depois há uns certos The Parkisons. Victor Torpedo e Pedro Xau são o que restava dos Tédio Boys. No entanto, fugiram de Coimbra e refugiaram-se em Londres. E foi lá que nasceu esta colectivo.
Calcorreando a estrada do punk, os The Parkisons começaram a desbravar caminho na adormecida cidade de Londres, agitando corpos e corações, sendo equiparados aos The Clash pela sua atitude. O seu reconhecimento aumentou com a digressão pelo Japão, onde foram recebidos por milhares em delírio. Espera-se o regresso a Portugal!

Entretando... Coimbra continua a ser a capital nacional do rock.


[Banda Sonora - Tam Tam Tam; SixPackTrack; 2003]

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Wednesday, September 01, 2004

I got blisters on my fingers! 

O White Album é para muitos (eu incluído) o melhor álbum dos Beatles. É rock tocado numa cave húmida e cavernosa, é blues jogado e arrastado na lama. Enquanto que Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band é psicadélico demais e Revolver já tem demasiado vestígios da vertente, a que chamo obla-di-obla-dá, White Album é porco, feio e mau (que neste caso é um elogio).

Além disso, é um álbum recheado de histórias e das mais variadas perspectivas. Basta rodar o prisma, para a luz passar a incidir de uma maneira completamente diferente. Se na vertente musical é uma magnífica delícia aos ouvidos, numa vertente paranormal adquire um simbolismo assustador, dentro do panorama das mensagens subliminares.

Para os menos cépticos, White Album não é mais que um dos inúmeros passos dissimulados que John Lennon deu na sua tentativa de revelar ao Mundo que o verdadeiro Paul McCartney está morto - para quem não sabe, os teóricos da conspiração defendem que o verdadeiro 'Macca' faleceu de desastre de viação em plena década de 60 e que o estrondoso sucesso da banda levou-os a recrutar um sósia para actuar pela vez do baixista. Mas não é isto que agora interessa. O que interessa é que Revolution #9 é um aglomerado de experiências sonoras deveras misterioso, as várias frases ouvidas durante o álbum são estranhas e é certo que John diz mais que uma vez Paul is dead, seja de trás para a frente, seja de frente para trás.

E depois roda-se o prisma mais uma vez e White Album assume agora um carácter de objecto de culto pagão, onde Charles Manson e a sua Família desenvoleram uma adoração extrema, descodificando mensagens nas músicas dos Beatles, que só eles compreendiam. O que é certo, é que a interpretação de Manson, que se auto-intitulava o quinto Beatle e, consequentemente, o quinto cavaleiro do apocalipse, de Piggies resultaram no massacre de três pessoas, entre elas a esposa grávida do realizador Roman Polanski, tudo graças ao armagedão iminente entre brancos e negros, descrita em Helter Skelter.

Seja como for - seja ligado ao folclore de Manson, seja atrelado ao mundo das mensagens subliminares dos conspiradores, ou simplesmente seja ligado aos melómanos - uma coisa é certa: depois de se escutar Helter Skelter, ouvir Ringo gritar I got blisters on my fingers, durante o curto hiato que dura até à música seguinte, é simplesmente arrepiante!


[Banda Sonora - Yer Blues; White Album; 1968]

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