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Friday, October 22, 2004

A alquimia na infância ou Como Romeu e Julieta é a maior história de amor de sempre 

Lembro-me perfeitamente da altura em que comecei a ouvir música, minimamente interesseado. Por ocorrências familiares, fui daqueles que tive o previlégio de ter saltado a fase dos Onda Choc e dos Ministars; devido às influências do meu irmão, mais velho, descobri o meu primeiro álbum de música no final dos anos 80. Era ainda sob o formato de cassete audio (só anos mais tarde comprei o vinil) e a capa foi deste o primeiro momento de contacto visual, cativante: um vulto escondido na escuridão, onde só se distinguia um casaco azul, dois punhos e uma fita para a cabeça fuorescentes e umas mãos segurando uma guitarra. E no canto superior esquerdo as letras dIRE sTRAITS, que eu ainda não conseguia ler, mas que já conseguia identificar.
O álbum era a compilação Money For Nothing e soou em minha casa por bastante tempo, quer fosse na aparelhagem da sala, quer fosse no walkman cinzento da Sanyo que eu roubava ao meu irmão. Venerava o solo inicial da música cujo título baptizava o álbum, o groove de Twisting By The Pool, a calma tranquilizadora de Brothers In Arms e o amor inerente de Romeo And Juliet.
Claro que isto foram tudo adjectivos que só anos mais tarde consegui identificar entre os meus sentimentos em relação á música da banda de Mark Knopfler (que consequentemente, foi o meu primeiro ídolo musical); na altura, a minha paixão pelos Dire Straits era de uma ingenuidade honesta, o que hoje me faz recordar grande parte da minha infância ao escutar muitos dos temas da banda inglesa.



Formados ainda nos anos 70, os Dire Straits foram no entanto, uma das grandes bandas dos anos 80. Musicalmente nascidos sobre o signo da guitarra, foram uma lufada de ar fresco por entre o panorama musical contemporâneo, que de um lado tinha o enfadonho rock progressivo dos Yes e dos Genesis e que do outro tinha os bandos de miúdos rebeldes, que seguiam a linha punk dos Sex Pistols. Visto sobre certo ponto de vista, os Dire Straits eram como um oásis no meio do deserto.

O nome Dire Straits quase se confunde com o nome de Mark Knopfler, o líder vocalista da banda, guitarrista virtuoso de referência. No entanto, como podemos comprovar pelas actuais evidências (e está já nos escaparates Shangri-la), essa confusão entre Knopfler e a sua banda não podia ser mais errada - Knopfler não era a banda, o que se pode comprovar pela sua actual monocórdica carreira a solo.

Antes do genial Brothers In Arms, os Dire Straits tinham já encetado uma carreira discográfica dbastante boa, recheada de singles de sucesso. Apoiada na herança blues/rock, inovada pela onda dos anos 70, os Dire Straits souberam inovar e adaptar-se aos anos 80 como ninguém, tornando-se uma das maiores referências do rock ligeiro.
Depois de uns últimos anos de carreira mais duvidosos, tiveram o canto de cisne em 1993, ao lançarem o segundo álbum ao vivo, On The Night.

On The Night veio provar porque foram os Dire Straits uma das bandas de estádio mais interessantes de sempre e uma das melhores bandas da história da música, sob o ponto de vista musical. Não era só o virtuosismo de Mark Knopfler que encantava; toda a banda era sublime - e On The Night tem o início mais espectacular da história dos álbuns ao vivo.

O álbum abre com Calling Elvis, single da fase descendente da banda; introdução arrasadora, sob a forma da virtuosa guitarra e Knopfler, com uma primeira abordagem ao mar de gente que assistia, cujas manifestações são arrepiantes. Calling Elvis inicia um despique genial entre as guitarras da banda e o cativante órgão, que vai introduzir uma injecção de boa disposição, cujo hammond inicial e o incentivo do anfitrião Mark Knopfler só podem significar uma enorme quantidade de saltos, braços no ar e cabeças a balançar. São cinco minutos que passam a correr e quando damos por nós, está a bateria de Pick Withers a marcar o ritmo para os riffs cortantes de Knopfler fazerem um dos melhores momentos rock registados oficialmente em disco. Musicalmente perfeita, Heavy Fuel dá entrada à maior música de amor de sempre. Romeo And Juliet faz juz à sua condizente literária e é um hino à música romântica, às baladas e ao soft rock.
Romeo And Juliet tem um início e um final de saxofone apaixonante, uma letra e uma interpretação vocal magistral e a prestação musical conjunta mais perfeita que há memória.

É Romeo And Juliet a declaração de amor concreta aos Dire Straits. É o rock vestido de mulher. Porque a primeira paixão nunca se esquece!


<[Banda Sonora - Romeo And Juliet; On The Night; 1993]


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