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Thursday, December 30, 2004

Ensaio musical para a reveillon 

Para quem vive com a música, ou para quem faz dela uma grande porção do seu dia-a-dia, é normal que elabore extensas bandas-sonoras da sua vida - quem não tem alguma música intrinsicamente ligada a um momentos específico e marcante da vida, que atire a primeira pedra. Além disso, também é normal que tenha mais facilidade em dissecar virtudes balsâmicas ou outros atributos a determinadas canções.

Por todos estes pormenores e mais alguns, também não é nada estranho que muitas destas pessoas perca tempo a conceber compilações perfeitas para um determinado acontecimento - quem nunca compilou um CD específico para ouvir no carro, que atire a primeira pedra.
Com efeito, aproxima-se uma específica altura do ano, propícia a estas compilações - é já amanhã a passagem do ano, época por natureza festiva e dada à música e, consequentemente, à dança. Urge portanto eleger a banda-sonora ideal para esse momento.

Qual é então essa banda-sonora ideal para a passagem de ano?
É lógico que varia deveras de ano para ano, apesar de manter alguns clássicos intemporais - e se alguém menciona a Lambada, sou eu que atiro a primeira pedra! Por isso, há que analisar dois indicadores essenciais.

Primeiro aspecto a ter em conta: a passagem de ano é um dia festivo, de excessos e diversão, que obrigatoriamente tem que ter música. Por isso, a música de dança confunde-se com a passagem de ano. No entanto, não pode ser qualquer canção. Não pode (nem deve) ser escolhida uma qualquer compilação de house para tunning ou afins. Primeiro, porque nesses conjuntos musicais, pouco ou nada se aproveita; e segundo, porque nem toda a gente aprecia house ou electrónica. Por isso, o truque está em escolher músicas cuja essência esteja na disco, com ritmo qb e factor orelhudo suficiente, para alegrar qualquer coração mais rancoroso.
Depois há o segundo aspecto, que apesar de ser o segundo, acaba por ter que ser tomado em consideração primeiro, devido à sua extrema importância. Ou seja, por mais músicas que a tal banda-sonora previamente elaborada tenha, que preencham o primeiro aspecto, vai ter que haver sempre pelo menos um par de músicas a abrir o disco, que vai servir para partir o gelo. Porque nunca ninguém gosta de abrir a pista de dança; porque às vezes o grupo não se conhece todo previamente e há resquícios de vergonha a pairar entre os membros; e porque as barrigas estão cheias e as mãos ocupadas.

Este segundo grupo de cantilenas é assim o mais importante. Não pode ser apenas algo dançável, como tem que ser ainda apelativo e sedutor, capaz de derreter o ambiente mais frio que se possa imaginar. E é sobre ele que me vou debruçar.
Há duas músicas, curiosamente ambas do ano transacto, que se inserem neste grupo na perfeição e são obrigatórias para abrir qualquer festa de reveillon, em qualquer parte do globo terrestre.

Comecemos pela primeira, que é da forma que tudo se deve começar.
São de Detroit, tiveram um padrinho chamado Jack White (que por acaso até toca guitarra na canção em causa) e o álbum de estreia, de 2003, chama-se Fire. O nome de guerra: Electric Six.
O seu primeiro single, High Voltage é uma enorme injecção de adrenalina, hormonas andrógenas e electricidade pura. Como o próprio nome indica, é uma sensação idêntica à de enfiar os dedos numa tomada. O som perfeito para quebrar qualquer ambiente incómodo e para fazer saltar todos, sem excepção, para o meio da sala. E se for preciso repetir a dose, não é nada que cause saturação.
Por isso, High Voltage é a música ideal para abrir qualquer passagem de ano, seja onde for e em que circunstâncias for. E se alguém conseguir ficar indiferente, é porque não é humano.

Este é o passo mais difícil, mas depois de ultrapassado tudo fica mais fácil. No entanto, não pensem que daqui para a frente é tudo um mar de rosas. A situação ainda é perene e a segunda canção tem que ter o condão de consolidar o ambiente reinante de diversão. Por isso, a segunda música tem de ser escolhida ainda a dedo.
Surge assim a minha segunda escolha, que recai sobre um dos hinos de 2003, saído do génio brilhante de André 3000, dos Outkast. Hey Ya é um hino de boa disposição, sinónimo de dança non-stop, ritmos alucinantes, um sedativo sensual que cativa qualquer um. Se a Ursula Andress, no primeiro episódio de James Bond fosse uma música, seria o Hey Ya.
Ou seja, depois do choque que é High Voltage, que funciona como reactor e catalisador simultanemente, Hey Ya age como um bálsamo, que consolida o estado de espírito desejado em algo constante, baixando-o para os níveis aceitáveis de uma passagem de ano.

A partir daqui fica à vossa disposição e utilizem os altos e baixos da banda-sonora do vosso reveillon da maneira que quiserem. Mas façam o que fizerem, não a deixem morrer!


[Banda Sonora - High Voltage; Fire; 2003]


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