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Saturday, December 11, 2004

Porque nunca ninguém se lembra deles 

Há estilos musicais que ficam intrinsicamente ligados a uma época e aos valores sociais da altura; e mesmo que seja revisitado posteriormente, nos tão prezados revivalismos, há sempre aquele toque temporal que é inerente à época de origem.
Ou seja, mesmo que o punk seja revisitado, nunca vai deter a mesma atitude e mensagem social que tinha no início; porque a sociedade alterou-se, o status quo melhorou e já não há os motivos de protesto que havia.
Um dos estilos que ficou inteiramente ligada à cultura social de uma época e que marca na perfeição uma década é o rock psicadélico e o acid-rock.

Costuma-se dizer que se te lembras dos anos 60, então é porque não estiveste lá. De facto, os finais dos anos 60, principalmente, são sinónimo dos hippies, da paz e amor, das drogas legalizadas, o LSD e os alucinogéneos. Uma época em que se fazia a apologia do mundo físico, do contacto directo do Homem e da Natureza, em que conceitos como o nirvana faziam todo o sentido, numa busca espiritual da harmonia do Universo.
Era a paz e o amor e era sobretudo, o LSD e os alucinogéneos. E foi neste universo de pastilhas e cogumelos que nasceram alguns dos elementos psicadélicos mais marcantes da música. Acopladas às t-shirts às cores em espiral, aterrava um objecto sonoro não-identificado de um alter-ego de corações despedaçados, em 1967, assinado por um quarteto de rapazes bem comportados de Liverpool, que outrora envergaram fatos bem compostos e que agora abraçavam um mundo alternativo de paz, alegria, confraternização, pintado a lápis-de-cera e que agora faziam um manifesto ao LSD, sob o disfarce de Lucy In The Sky With Diamonds.
No mesmo ano, como que em resposta à sua "banda-némesis", um quinteto inglês também experimentava o psicadelismo, em murmúrios intergalácticos a 2000 milhas de casa, na companhia de duendes descidos do arco-iris, tudo embrulhado num invólucro em três dimensões, a pedido de sua realeza satânica.
Cresciam ainda, paralelamente, outros ingleses que abraçam o rock-psicadélico e o acid-rock em iguais proporções, de mãos dadas com figuras mitológicas, com pais natais subidos de uma mina de carvão e com trompetistas dos portões do crepúsculo.
Falo dos Beatles, dos Rolling Stones e dos Pink Floyd, respectivamente, apenas para mencionar alguns títulos que nos acorrem de imediato à memória quando recordamos estas raízes.
No entanto, há mais. E destas bandas pouca gente conhece, ainda menos se lembram e raramente as vemos mencionadas. No entanto, também elas foram percursoras do psicadelismo que degenerou no rock progressivo, quando o primeiro abandonou as alucinações.

Os The 13th Floor Elevatorforam a primeira banda a abraçar o psicadelismo. Juntaram-se em 65 e lançaram o primeiro álbum no ano seguinte, The Psychadelic Sound Of, um registo notável de uma alucinação em fase embrionária.
Um ácido com pouca estricnina, a fazer discorrer guitarras harmoniosas, com muitos coros e refrões bonitos, como se pedia. Nesta altura, ainda se descodificava a raiz rock na música, nem que fosse pela fabulosa harmónica. Mas também estão lá os resquícios dos Stones ou dos Kinks.
Os The 13th Floor Elevator foram uma banda fantástica, com mais três discos, mas que merecem ser recordados, mesmo que só tivessem lançado este álbum. Divagação psicadélica que prima pelas canções curtas.

Mais à frente, em 1968, há outro registo sob a forma de um vinil fantástico, baptizado de Transparent Day, por uns senhores que se intitulavam The West Coast Pop Art Experimental Band. Como o próprio nome indica, esta banda norte-americana fascinava-se por Andy Warhol, o ícone da arte pop, ou não fosse ele o símbolo dos alucinogéneos da altura.
Recrutando uma herança folk-Byrds nunca descurada, absorvendo o rock necessário e pulverizando com as pitadas pop que mais tarde iriam ser usadas em dose industrial no britpop, os TWCPAEB pairavam num universo rítmico de guitarras à-Yardbards, num caos viajante. Havia guitarras ecoantes e misteriosas, chamamentos do desertos e letras de outra dimensão.
E o psicadelismo e o acid-rock voltavam a dar cartas.

São só dois exemplos de como há várias grandes bandas que raramente são faladas. Isto tudo apenas para referir os Cato Salsa Experience. Mas porque raio não se ouve falar mais deste quarteto norueguês, em pleno revivalismo rock?
Nestes últimos tempos, bandas como os The Strokes ou os White Stripes, para não falar dos conterrâneos The Hives, têm ajudado a recordar o garage-rock tão característico e apaixonante de três décadas atrás.
E não são só estes mecanismos controlados que nos fazem saltar e gritar, ao ritmo dos cliches do rock n' roll; também o desconstrutivismo do rock da Blues Explosion é algo abrasivo e laminado. Mas continua a faltar a diversão.
É aqui que entram os Cato Salsa Experience. Uma alucinação rock-retro de muita diversão e muito groovy. Como alguém definiu uma vez, são como se os Monkees se tivessem metido nos ácidos.
The Fruit Is Still Fresh é um álbum irreverente de guitarra e teclas a riste, em ritmos de dança incansável, boogie honesto e alucinado, não para salvar o rock, mas para nos fazer perder a cabeça e os pés, até que alguém o faça.
Não sabem o que estou a dizer? Então entrem no site oficial e vejam o cabeçalho da página!


[Banda Sonora - Waiting The Bash; The Fruit Is Still Fresh; 2003]


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