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Thursday, March 31, 2005

Desmistificar fantasmas 

Sublinho por baixo o que já aqui foi escrito uma vez, pela acutilante e pertinente mezzanine (com letra minúscula, tal como o d de dermot: os best of's são uma enfermidade pérfida da música, principalmente no panorama actual.
No entanto, sou ainda mais generalista, quando digo que as colectâneas, actualmente, só têm servido para degenerir o aspecto dos escaparates das discotecas do comércio tradicional (para não falar da parte dedicada às colectâneas do Top+).

O problema dos best of's e dos greates hit's é muito simples; geralmente, não passam de um sucedâneo de temas de sucesso de determinado artista. Antes ainda se limitavam a fazer best of's de bandas com extensos anos de carreira, ou de artistas já extintos (pelo menos para a música). Agora, qualquer one-hit-wonder tem direito a um best of, no final do primeiro ano de carreira, qual recompensa. Que o diga Britney Spears.
Um álbum é provido de substância e de unidade e não é preciso ser essencialmente conceptual para isto acontecer. É algo natural; qualquer tema deslocado do seu álbum de nascença, perde o significado que ganhou ao ser gravado e lançado naquele disco. Se num best of o único critério de selecção e de ordenamento é algo tão vago como a ordem cronológica, como é que podemos apreciar um best of como um álbum como os outros?
Por isso, na minha opinião, os best of's e os greatest hit's só servem como material de reconhecimento. Gostas de Shadows? perguntaram-me recentemente. Sim, foi a minha resposta instintiva. Mas uma rápida introspecção interior levou-me à conclusão que afinal não conhecia Shadows o suficiente para responder aquela pergunta de forma coerente, uma vez que o meu conhecimento acerca da banda se limitava ao Apache e a outros poucos temas que nem sabia o nome. A solução? Recorrer a um grestes hits duplo, pô-lo a correr no leitor de cds, e depois de ouvir os singles de maior saída da carreira extensa daqueles senhores, pude concluir que afinal a minha resposta intuitiva tinha sido acertada. E agora, no futuro, quando algum vinil dos Shadows se perfilar perante mim e se a ocasião o permitir, não o deixarei escapar.
Mas mesmo nesta condição, os best of's podem ser enganadores. Se um artista tiver uma carreira extensa, de altos e baixos, amadurecimentos, divagações estilísticas e outros afins, um best of acabrá por ser uma caldeirada em que o único fio condutor é a voz do intérprete. Por exemplo, os greastest hits de Elvis, o rei do rock n' roll, são na grande maioria colectânea de singles românticos para viúvas e solteiras, uma vez que foram os singles da sua fase de Las Vegas que obtiveram maior reconhecimento geral.
Por isso, utilize só os best of como reconhecimento do terreno e só em última ocasião.

Quanto às colectâneas, atravessam um período negro. Uma colectânea obedece a uma temática e esta, ou é mal escolhida, ou é mal feita, na maioria dos casos. Como a única preocupação é vender, e para isso é necessários atingir o mainstreem, as temáticas roçam tudo o que justificar a inclusão das bandas da moda (alguém falou dos Keane?).

No entanto, aparecem excepções que nos fazem suspirar de alívio. E uma excepção é a colectânea como a da Superfuzz. Não é o salvador do rock nem a bíblia do mesmo, mas é uma excelente escolha de temas rock do último ano, de um grupo de apreciadores que sabe o que quer (e sobretudo o que gosta). Desde o surf-rock, passando pelo garage-rock, o blues e o retro-rock, está tudo lá, dos menos conhecidos aos mais conhecidos.
Uma excelente audição para as tardes de Verão.

E já que estou numa de desmistificar pesadelos, apetece-me desmistifcar outro: o das bandas de covers.
Normalmente, uma banda de covers serve para animar uma festa ou uma boa noite de copofonia com os amigos. O seu valor musical é limitado ou pouco valorativo, uma vez que se limitam a tocar o que já está gravado ou a variar um pouco.
É indigno comprar um disco de uma banda de covers, certo?
Errado! Experimentem ouvir uma certa banda, que costuma passar as noites por entre os copos de whisky de um bar à beira de um cruzamento em Detroit. Chamam-se Detroit Cobras e tocam versões rock n' roll, tudo muito retro e moderno, com uma atitude muito cool.
Não tem nada a ver esta última dissertação, pois não?
Não faz mal, só me apetecia mesmo falar desta gente.


[Banda Sonora - Mumbo Jumbo; The Masonics; OST Superfuzz; 2005]

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