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Saturday, March 05, 2005

Odeio dizer bem te avisei 

O revivalismo rock entrou-nos porta dentro, à boleia dos Strokes, já o estamos cansados de saber.
E aproveitando a nova onda, a MTV rapidamente preencheu a sua grelha de programção com tudo o que tivesse uma guitarra e uma bateria no mínimo, rotulando-os automaticamente como "a nova sensação rock". O público mais jovem e ingénuo de ouvido pasmou com todo aquele fascínio garage rock, tal como o Homem pasmou a primeira vez que viu a roda. Entretanto, já gente como os Gories ou os Cramps faziam há décadas, aquilo a que agora catalogavam como novo.

Aproveitando a euforia, a MTV decidiu gladiar duas dessas apelidadas "novas sensações rock", num qualquer MTV Music Awards, qual Coliseu de Roma. Apresentando no canto esquerdo, os The Vines, uma fusão Beatles meets Nirvana, com mais dos primeiros do que dos segundos. Claro que a MTV aproveitou logo o single furioso mas de plástico, de guitarras em riste e vocalização esquizofrénica, condizente com uma adolescência sem nada com que se revoltar, mas revoltada com tudo - Get Free. No canto direito, os The Hives, banda sueca com verdadeira escola garage rock, vestidos a preto e branco e com um demónio gritante atrás do microfone. As semelhanças entre as duas, quedava-se quiçá, pelo nome...
Injusta ou não, o que é certo é que os Hives deram uma tareia descomunal a uns Vines que, em total desespero, destruíram o palco, tentando que a comum comparação com o colectivo de Kurt Cobain justificasse a atitude. Do outro lado, um sereno conjunto de engravatados a branco e preto tinha ainda o desplante de dizer Sabemos que vocês querem que toquemos mais. Mas não nos deixam!

Neste tsunami de revivalismo rock que nos invadiu, os Hives foram a esécie que melhor representa o garage rock. Têm a atitude nórdica rock n' roll; têm bolas de energia, curtas e directas, a que chamam de canções; têm nomes adoptivos, tudo muito cool; e têm estilo. Muito estilo. Não são só os uniformes bi-colores, mas principalmente o vocalista, Howlin' Pelle Almqvist. Este demónio gritante é um Mick Jagger jovem, com a rebeldia e o freakout de Johnny Rotten - uma força da Natureza que enche o palco, canta (grita), pula, dança, cativa e seduz. Literalmente, faz amor com o palco!

Agora surge o cerne da questão: e isto chega? E a música?
Os The Hives têm a escola e não se preocupam se cantam sobre o estado da nação ou o estado do bar da esquina. Mas quem é que quer saber o que diz Howlin' Pelle Almqvist quando este debita aquelas bolas de fogo? No entanto, falta ali qualquer coisa à música. Fossem todas como os singles Main Offender ou Hate To Say I Told You So e não se colocava esta pergunta. No entanto, não são.
Um concerto até pode ser apenas música, mas havendo uma componete visual bem explorada, passa-se para outro nível - o da glorificação/galvanização. Os The Hives começam pelo fim, ou seja, começam pela galvanização e só depois vem a música. Se resulta? Resulta, quando são cargas curtas de choque, porque se este se estende um pouco mais, começa a entrar em rotina. São assim os álbuns, que cansam de ouvir quando deviam era cansar de saltar. O garage rock é atitude, mas não é só riffs e gritos, o mais alto possíve. Há mais qualquer coisa. O quê? É o que eles têm de procurar, não chega de viver da imagem e da atitude ao vivo.

É certo que não foram eles que inventaram a roda. Também é certo que eles sabem pô-la a rodar. Mas convém saber porque roda ela.


[Banda Sonora - Hate To Say I Told You So; Veni Vidi Vicious; 2000]

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