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Friday, March 25, 2005

Os suspeitos do costume 

Nao é fácil falar de jazz, pelo menos para mim, por duas razões muito simples: primeiro, devido à especificidade do mesmo, que se multiplica num turbilhão de emõções e sentimentos particulares e que difere tanto entre músicos como a água difere do azeite. Falar sobre jazz é como dissertar sobre a nossa alma. E como raramente gosto de me expôr em público de tal maneira, falar sobre jazz é algo que não faço frequentemente.
Quanto à segunda razão que anunciei logo no início é porque conheço poucos interlocutores, cujo valor intelectual faça valer a pena uma abordagem a tal temática.

Gostar de jazz parece ser algo destinado apenas aos pseudo-intelectuais, na nossa sociedade. Ou pelo menos, assim me parece. Dizer que The Shappe Of Jazz To Come é um dos melhores álbuns de música, parece querer dizer que somos estranhos por gostar de um disco instrumental, de deambulações imprecisas, sem um pingo de letra que revele o que vai na alma do artista. Então e que tal, se em vez de o ouvirem, procurarem senti-lo?

Depois, há ainda outro caso em que o jazz parece ter-se tornado um lugar comum, onde se encontram as personalidades óbvias da área. Quem nunca teve numa tertúlia que resvalasse para uma discussão aerca de jazz e que temrinasse à volta duma fogueira ateada pelos nomes óbvios de Ornette Coleman, Duke Ellignton ou John Coltrane?
Claro que não vamos recusar um génio, apenas porque este caiu na rotina dos meandros da arte. Porque como disse alguém, um clássico será sempre um clássico, porque antes de o ser já era.
Então, mas... e os outros? Então e Jimmy Smith que um dia decidiu dar personalidade a um Hammond? Ou Gene Krupa que achou por bem tirar a bateria do anonimato? Ou mesmo Buddy Rich que lhe deu notoriedade? Ou Lucky Peterson? Ou o cosmopolita David Murray? Ou Ron Carter?

Por isso, apetece-me falar de alguém que é pouco falado. Ou pelo menos, não é falado da maneira correcta.
Mike Ladd é geralmente, associado ao hip-hop - raramente, o nome "Mike Ladd" e a palavra "hip-hop" não entram na mesma frase. No entanto, dizer simplesmente que Mike Ladd é um gajo do hip-hop, é o mesmo que dizer que a Stratocaster é só uma guitarra.
Mike Ladd é um gajo da música, com muita (des)semelhanças com Mike Patton. E o seu último álbum, Negrophilia, é um OSNI (Objecto Sonoro Não Identidicado) que passou quase despercebido pelos escaparates.
Nele, há uma fusão entre hip-hop, música electrónica e jazz - os ritmos do primeiro, os sons futuristas do segundo e a colaboração de vários avant-gardeistas do terceiro. Fantásticamente, Mike Ladd transforma tudo isto num caos organizado. Como se Mr. Spock e John Zorn tiveem ido beber um copo à galáxia Nebula, à velocidade do som na Enterprise.
Negrophilia não se ouve. Sente-se.


[Banda Sonora - Sam And Milli Dine Out; Negrophilia; 2005]

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