<$BlogRSDURL$>

Wednesday, April 27, 2005

O folk está de volta à cidade 

O folk veio decididamente para ficar. Ou, como já ouvi alguém chamar, o neo-folk. Porque assim rebaptiza-se o velho para parecer novo. E como todos os revivalismos, cria-se o hype e torna-se o folk na the next big thing.

Oficialmente reabilitado com a colectânea The Golden Apples Of The Sun, o folk trouxe para a grande fogueira do internacionalismo pequenas achas que não eram mais do que simples cantautores fiéis dos recônditos cantos da alma norte-americana. Essa internacionalização mandou às urtigas essa exclusividade americana e agora o folk já é uma tristeza de alma que se pode ouvir na bela Itália (alguém falou de Emiliana Torrini?) ou nas Beiras Altas (alguém falou de Old Jerusalem?).

Sempre sob a alçada do deus-maior, Devendra Banhart, o círculo do folk tem vindo a alargar-se, incluindo uma diversidade de nomes que começam a ser comuns nos orgãos de comunicação: Antony, Cocorosie, Iron & Wine, Six Organs Of Admitance ou Josephine Foster.
Por isso, antes que a obra rebente na praia e apenas alguns nomes permaneçam na espuma da rebentação folk, há que chamar a atenção para os que podem não se destacar.

Antony disse a seu respeito que "uma força assim só aparece de vinte em vinte anos". Mas se o ano zero da cronologia folk é contado a partir do mestre Bob Dylan, corrijo que uma força assim só aparece de quarenta em quarenta anos.
Apesar dos seus tenros vinte - 20 - vinte anos, Joanna Newsom já tem muito a contar no mundo da música em geral e no mundo do folk em particular. Joanna Newsom tem a voz de cana rachada de Bob Dylan, que se estranha e depois entranha; tem a rebeldia de Patti Smith, apesar do ar angelical de quem ainda não foi corrompida pela consciência da idade; tem o espírito campestre de Joan Baez, num misto Casa Da Pradaria/Cowgirl; e tem o espírito de Joni Mitchell.
Joanna Newsom é um anjo descido à terra. E como que a provar esse facto (porque apesar de óbvio, há sempre os cépticos e os teimosos), não se esquivou a trazer a sua harpa consigo. E basta vê-la tocar tão angelical instrumento para constatar que nennum humano toca harpa daquela maneira - batida, em vez de dedilhada.

O folk veio para ficar. Se a história se repetir no ciclo elíptico que costuma fazer, voltará para o esquecimento dentro de alguns anos. Esperemos que os anjos fiquem.


[Banda Sonora - This Side Of The Blue; The Milk-Eyed Mender; 2004]

|

This page is powered by Blogger. Isn't yours? Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com